Cinco mais Poderosas Armas Biológicas

Chamamos de Guerra biológica o uso ofensivo de organismos vivos (microorganismos ou toxinas) como arma de destruição em massa. Uma arma biológica eficiente deve conter um patógeno de transmissão direta, com um período de incubação ou contágio longo o suficiente para garantir a disseminação, além de incapacitar ou matar suas vítimas.

VARÍOLA
A varíola ocupa o topo da lista. Historicamente, sua taxa de mortalidade varia de 30% a 35%, embora tenha chegado a 90% em populações que nunca foram expostas ao vírus, como os nativos americanos. O vírus da varíola é transmitido através do ar, pelas secreções do espirro ou da tosse de uma pessoa infectada, e até pelo contato físico.
A doença provoca febre, mal-estar, dores de cabeça e no corpo e vômitos ocasionais. Dois a quatro dias depois da infecção, surgem erupções na boca e na garganta e pústulas na pele. Este é o período mais contagioso.
Em geral, a erupção se espalha por todo o corpo em 24 horas. Ironicamente, a maioria das pessoas sente-se melhor nessa fase. As pústulas típicas da varíola surgem após cerca de três dias, com bolhas cheias de líquido. Neste momento, a febre sobe novamente.
Ao longo de uma ou duas semanas as pústulas estouram, e quando a última se rompe, o doente já não transmite o vírus. A varíola possui quatro variedades, sendo que três delas costumam ser fatais. O último caso de ocorrência natural da doença foi em 1975, em Bangladesh. No entanto, o vírus ainda é armazenado a frio em dois laboratórios, um nos Estados Unidos e outro na Rússia.
Por enquanto, é provável que a maioria das pessoas na faixa dos 20 a 30 anos não tenha nenhuma imunidade ao vírus, sobretudo em países em desenvolvimento, cujas populações são mais jovens. "Um novo surto na Índia ou África do Sul, por exemplo, seria trágico”, alerta Tara Smith, professora- assistente de epidemiologia na Universidade de Iowa.

SUPER BACTÉRIAS

Bactérias que provocam doenças historicamente tratadas com antibióticos são boas candidatas a armas biológicas, já que muitas cepas se tornaram resistentes a esses medicamentos. O estafilococo resistente à meticilina, ou MRSA, é um dos mais conhecidos e é transmitido pelo contato físico.
O MRSA permanece sobre a pele, mas ocasionalmente infecta órgãos vitais, como o coração. Algumas cepas causam a fasciite necrótica. Um MRSA resistente a todos os antibióticos desenvolvidos até o momento provocaria muitas mortes.
A bactéria da tuberculose é outra que gerou variedades resistentes aos antibióticos. A primeira forma bactéria totalmente resistente foi identificada em 2007 na Itália. Em 2010, 8,8 milhões de pessoas contraíram a doença, que matou 1,4 milhão de pessoas.
A tuberculose é a segunda maior causa de morte no mundo, seguida pela AIDS, segundo a Organização Mundial da Saúde. É transmitida diretamente pela tosse. A bactéria multiplica-se nos pulmões e as pessoas infectadas morrem por insuficiência respiratória ou excesso de líquido nos pulmões. “Fabricar bactérias resistentes aos medicamentos já não é tão complicado”, explica Smith. "É fácil inserir genes de resistência a antibióticos em quase todos os patógenos, e alguns plasmídeos já possuem genes de resistência a vários tipos de drogas”.

PESTE BULBÔNICA
A peste bubônica ou peste negra, provocada pela bactéria Yersina pestis, matou um terço da população da Europa no século 14, e ainda existe em algumas partes do mundo atualmente. A bactéria tem um longo histórico como arma biológica: segundo relatos sobre o cerco dos mongóis à cidade de Crimeia, em 1347, os invasores catapultaram cadáveres infectados sobre as muralhas. E não se trata apenas um fenômeno medieval.
O último grande surto nos Estados Unidos ocorreu em 1900, em San Francisco: 121 pessoas ficaram doentes, das quais 113 morreram, e outros casos têm surgido esporadicamente desde então.
A peste é transmitida por pulgas, que incubam as bactérias no esôfago. Sua multiplicação impede o sangue de chegar ao estômago das pulgas; famintas, elas começam a se alimentar de forma mais agressiva e tentam eliminar o bloqueio regurgitando as bactérias, que transmitem a doença aos hospedeiros, incluindo seres humanos.
Os sintomas aparecem de dois a seis dias depois. A infecção causa inflamação nos gânglios linfáticos (ínguas), mas às vezes bactérias invadem a corrente sanguínea diretamente e causam sintomas semelhantes aos da gripe, sem inflamar os gânglios. Em ambos os casos, a taxa mortalidade varia de 40% a 60%.
A infecção dos pulmões é a forma mais grave da doença. O paciente tosse uma saliva sanguinolenta, e suas gotículas disseminam a doença; se não for tratada rapidamente, a mortalidade pode chegar a 100%. A peste bubônica é tratável com antibióticos como estreptomicina, mas uma cepa resistente pode se tornar um grave problema de saúde pública.

ANTHRAX
A bactéria Anthrax, conhecida como antraz, se dissemina por esporos que conseguem sobreviver em diversos ambientes, às vezes durante vários anos. Há três formas de infecção: respirar os esporos, absorvê-los através de cortes na pele e comer carne contaminada. A infecção por inalação costuma ser a mais letal.
A medida que as bactérias se multiplicam, elas liberam toxinas na corrente sanguínea e nos tecidos, causando inflamação e morte celular. As taxas de mortalidade são elevadas, cerca de 50%, mesmo se a infecção for tratada com antibióticos – sem eles, chega a 90%.
Não é contagiosa, mas uma bomba biológica pode espalhar os esporos e infectar um grande número de pessoas simultaneamente. Os esporos podem até mesmo ser enviados pelo correio, como nos ataques com antraz de 2001, quando envelopes contaminados chegaram a vários meios de comunicação e ao escritório de dois senadores. Cinco pessoas morreram e outras 17 foram infectadas. "O antraz é eficiente por ser estável e raramente é detectado até que seja tarde demais”, explica Smith.
O antraz gera sintomas semelhantes aos da gripe, e a menos que haja um bom motivo para desconfiar da infecção, um médico dificilmente o detectará. Mas para um terrorista, não compensa tanto: a liberação dos esporos precisa ocorrer várias vezes, já que a transmissão não ocorre de pessoa para pessoa.
O antraz também é vulnerável a antibióticos se a infecção for diagnosticada no início, mas cepas resistentes foram testadas nos Estados Unidos e na antiga URSS até 1972, até que os projetos foram abandonados em 1992. Em 1942, o governo britânico testou uma variedade de antraz em uma ilha na Escócia; a descontaminação só foi concluída em 1990.

PESTE DE ANIMAIS - AFTOSA
Tal como os patógenos que matam pessoas, os que atacam animais e plantações podem ter efeitos igualmente devastadores. A peste bovina, supostamente erradicada em 2011, chegou a matar 100% dos animais doentes que nunca tinham sido expostos ao vírus.
A aftosa, causada por um vírus do gênero Aphthovirus, permanece ativa. Pode infectar vacas, porcos, ovelhas e cabras, e provoca lesões nos cascos e na boca, que impedem os animais de se alimentar e de se movimentar; alguns morrem de inflamação cardíaca. A aftosa pode ser transmitida pelo contato com equipamentos agrícolas contaminados, veículos, roupas, alimentos e até predadores.
Durante o surto de 2001 no Reino Unido, todos os que viajaram de lá para os Estados Unidos e Europa tiveram que pisar em almofadas antissépticas para descontaminar os sapatos; as importações de carne da Grã-Bretanha para a União Europeia foram suspensas. Milhões de animais foram abatidos, causando prejuízos de bilhões de dólares.
Para espalhar o caos, um terrorista poderia usar aerossóis para disseminar o vírus e matar rebanhos inteiros. “Se alguém pulverizasse cada rebanho na beira de uma rodovia em uma viagem de ida e volta de Nova York a São Francisco, seria suficiente”, alerta Peter Palese, diretor do departamento de Microbiologia da Escola de Medicina Mt. Sinai, em Nova York.
Outras doenças também podem se tornar um problema grave, como a gripe aviária H5N1, que infecta as vias respiratórias e tem uma alta taxa de mortalidade entre frangos e aves.

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