A poluição ambiental – de ar poluído à água contaminada – mata mais pessoas todos os anos do que todos os conflitos armados e violência no mundo todo. Mata mais que cigarro, fome e desastres naturais. Mais que AIDS, tuberculose e malária juntos.
Mas como isso pode ser possível? Uma a cada seis mortes prematuras no mundo no ano de 2015 (9 milhões de pessoas) são atribuídas a doenças causadas por exposição tóxica, de acordo com estudo publicado na revista de medicina Lancet em meados de outubro.
O custo financeiro de doenças relacionadas à poluição é igualmente massivo, custando US$4,6 trilhões em perdas anuais, cerca de 6,2% da economia global.
“Há muitos estudos sobre poluição, mas nenhum que tenha recebido os fundos ou atenção como a AIDS ou mudanças climáticas”, aponta o epidemiologista Philip Landrigan, reitor da Icahn School of Medicine (Nova York) e pesquisador principal do trabalho.
O relatório marca a primeira tentativa de reunir dados sobre doenças e mortes causadas por toda forma de poluição combinada.
“Poluição é um problema massivo que as pessoas não enxergam porque elas estão olhando para partes espalhadas dela”, diz Landrigan.
Para piorar a situação, essas 9 milhões de mortes prematuras são apenas uma estimativa, e o número de pessoas mortas pela poluição com certeza é maior. Este número deve crescer assim que mais pesquisas forem realizadas e novos métodos para avaliar os impactos negativos forem desenvolvidos.
Regiões do mundo como a África Subsaariana ainda precisam instalar sistemas de monitoramento da poluição do ar. Já a poluição do solo tem recebido uma atenção mínima. E ainda há muitas toxinas em potencial que são ignoradas nesses escassos monitoramentos. Menos de metade das 5 mil novas substâncias que estão sendo espalhadas pelo mundo desde 1950 já foram testadas para avaliar se são seguras ou se são tóxicas.
Fogo no rio Cuyahoga (EUA) em 1969
“No ocidente, retiramos chumbo da gasolina, então pensamos que o problema do chumbo estava resolvido. Nos livramos dos rios que queimam [com óleo e outros poluentes], limpamos os locais mais tóxicos. E então essas discussões ficaram em segundo plano”, explica Richard Fuller, alertando que justamente no período da explosão industrial em países em desenvolvimento, os países desenvolvidos abandonaram a causa. Fuller é diretor da Pure Earth, ONG internacional que se dedica à despoluição dos países em desenvolvimento.
“Em certo sentido, esses países olham para o ocidente procurando por exemplos e discussões, e nós as abandonamos”, lamenta Fuller.
Países mais poluídos
A poluição de Pequim pode ser vista do espaço
A Ásia e África são as regiões que mais colocam as pessoas em situação de risco, segundo a pesquisa, enquanto a Índia está em primeiro lugar na lista de países individuais em pior situação.
Uma em cada quatro mortes prematuras na Índia em 2015, ou 2,5 milhões, foram atribuídas à poluição. O meio ambiente da China ficou em segundo lugar como mais mortal, com mais de 1,8 milhões de mortes prematuras (20% das mortes).
Vários outros países como Bangladesh, Paquistão, Coreia do Norte, Sudão do Sul e Haiti também observam 20% de suas mortes relacionadas com doenças vindas da poluição.
Mesmo assim, muitos países pobres têm tornado o controle da poluição a prioridade número um. A Índia tem tomado medidas recentes como diminuir a emissão de gases poluentes de veículos e fábricas e limitar ocasionalmente o número de carros nas ruas de Nova Deli. O país, porém, ainda tem tomado medidas muito tímidas quando se trata de queimadas de plantações, incêndios de lixo e poeira de construção, além do enorme uso de combustíveis fósseis poluentes.
Lei dos fogos de artifício
Uma medida curiosa adotada pela cidade de Nova Deli no festival Diwali, que caiu no dia 19 de outubro, foi proibir residentes de lançarem fogos de artifício. O grande feriado é comemorado com presentes, doces e rojões. Mesmo assim, a lei não foi respeitada, e os moradores acordaram neste 20 de outubro com a cidade envolta em uma fumaça acre e altos níveis de uma partícula perigosa no ar, a PM 2,5. Estas partículas não só podem causar doenças debilitantes como câncer de pulmão e asma, como também podem desencadear paradas cardíacas e acidentes vasculares cerebrais. A concentração da PM 2,5 no ar foi de 900 partes por milhão, 90 vezes superior ao limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde.
“Mesmo com o surgimento de normas melhores, os níveis de poluição continuam aumentando”, afirma Schamhavi Shukla, pesquisador do Centro de Ciência e Ambiente de Nova Deli.
Poluição do solo, ar e água
Para chegar aos resultados do estudo, os pesquisadores usaram métodos estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA para acessar dados de campo sobre testes da poluição do solo, ar e água realizados pelo Global Burden of Disease.
O Global Burden of Disease é um estudo em andamento feito por instituições como a Organização Mundial da Saúde, o Instituto de Métricas da Saúde e a Universidade de Washington (EUA).
Comparação com outras causas de morte
A estimativa de 9 milhões de mortes causadas pela poluição é 1,5 vezes maior que o número de pessoas que morrem por fumar; 3 vezes maior que o número de pessoas mortas pela AIDS, tuberculose e malária combinadas; mais de 6 vezes o número de pessoas mortas em guerras e por outras formas de violência.
Talvez o problema seja ignorado por muitos porque ele afeta principalmente uma maioria que é ignorada: os mais pobres. A maioria das mortes, 92%, acontecem em países de baixa e média renda, onde políticos estão mais preocupados em fazer a economia crescer e construir infraestrutura básica. Regulamentações nesses países costumam ser fracas e as indústrias se apoiam em tecnologias ultrapassadas e poluentes.
Mesmo em países ricos onde a poluição não é gritante, é a parte mais pobre da população que fica mais exposta à poluição, segundo a pesquisa.
A estimativa de 9 milhões de mortes causadas pela poluição é 1,5 vezes maior que o número de pessoas que morrem por fumar; 3 vezes maior que o número de pessoas mortas pela AIDS, tuberculose e malária combinadas; mais de 6 vezes o número de pessoas mortas em guerras e por outras formas de violência.
Talvez o problema seja ignorado por muitos porque ele afeta principalmente uma maioria que é ignorada: os mais pobres. A maioria das mortes, 92%, acontecem em países de baixa e média renda, onde políticos estão mais preocupados em fazer a economia crescer e construir infraestrutura básica. Regulamentações nesses países costumam ser fracas e as indústrias se apoiam em tecnologias ultrapassadas e poluentes.
Mesmo em países ricos onde a poluição não é gritante, é a parte mais pobre da população que fica mais exposta à poluição, segundo a pesquisa.
Indústria poluidora x crescimento da economia
Smog perto de Nova Deli 2016
“O que as pessoas não percebem é que a poluição causa danos para as economias. Pessoas que estão doentes ou mortas não podem contribuir economicamente”, diz Fuller.
“Há esse mito de que você precisa deixar que a indústria polua ou então não há desenvolvimento. Isso não é verdade”, acrescenta ele. Uma prova disso é que cada dólar investido no controle da poluição do ar nos EUA desde 1970 representa uma ganho de US$30 em produtividade e saúde para o país. Remover o chumbo da gasolina nos anos 1980 significou uma economia acumulada de US$6 trilhões, de acordo com pesquisas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
O Banco Mundial declarou que reduzir todos os tipos de poluição deve ser uma prioridade global, e em dezembro de 2017 a ONU deve organizar sua primeira conferência sobre poluição.
“A ligação entre poluição e pobreza é muito clara. E controlar a poluição poderia nos ajudar a cuidar de muitos outros problemas, da mudança climática à desnutrição”, afirma Ernesto Sanchez-Triana, especialista em meio ambiente do Banco Mundial. [Phys.org]
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