Pesquisadores descobrem “neurônios da ansiedade” no cérebro

Um novo estudo americano da Universidade da Califórnia e da Universidade de Columbia descobriu células cerebrais especializadas em ratos que parecem controlar os níveis de ansiedade dos animais.
A descoberta poderia eventualmente levar ao desenvolvimento de melhores tratamentos para os transtornos de ansiedade, que afetam muitas pessoas em todo o mundo.

Isso é especialmente importante para o Brasil, tendo em vista que somos o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo todo. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde divulgadas ano passado, em fevereiro de 2017, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade.

Ansiedade clínica
Esse progresso é apenas o último avanço dos cientistas, que entendem cada vez melhor como a ansiedade funciona no cérebro.

“Se pudermos aprender o suficiente, podemos desenvolver as ferramentas para ligar e desligar as principais peças que regulam a ansiedade nas pessoas”, afirma Joshua Gordon, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, que ajudou a financiar a pesquisa.

A ansiedade clínica inclui condições diagnosticadas como transtorno da ansiedade generalizada, síndrome do pânico e transtorno da ansiedade social, e envolve uma preocupação excessiva que não desaparece – diferentemente de ficar ansioso ocasionalmente, o que acontece com todo mundo.

A descoberta
Os pesquisadores descobriram os neurônios ligados à ansiedade no hipocampo, uma área do cérebro que já era conhecida por desempenhar um papel na condição, bem como na navegação e na memória.
Eles fizeram isso estudando ratos ansiosos. Quando a ansiedade se manifesta nesses animais, eles tendem a ter medo de lugares abertos. Então, a equipe os colocou em um labirinto no qual alguns caminhos levavam a áreas abertas. Em seguida, monitorou a atividade das suas células cerebrais no fundo do hipocampo.

“E o que encontramos é que essas células se tornaram mais ativas sempre que o animal entrava em uma área que provoca ansiedade”, disse Mazen Kheirbek, da Universidade da Califórnia em São Francisco, um dos autores do estudo.
Esta atividade por si só, no entanto, não provava que as células estavam causando comportamento ansioso. Os cientistas queriam saber se manipulá-las poderia levar os animais a ficarem mais ou menos ansiosos.

Botão liga/desliga
A equipe encontrou uma maneira de controlar a atividade dessas células, utilizando uma técnica chamada optogenética.

Quando os pesquisadores diminuíram a atividade das células, os ratos ficaram menos ansiosos e começaram a explorar mais os locais abertos. Quando eles aumentaram essa atividade, os ratos ficaram mais ansiosos e não queriam explorar nada.

Embora essa parte do cérebro esteja com certeza relacionada à ansiedade, tais neurônios são provavelmente apenas uma parte de um circuito maior envolvido no comportamento.
Por exemplo, as células do hipocampo se comunicam com outra área cerebral chamada hipotálamo, que diz aos ratos quando evitar algo perigoso. Kheirbek disse que outras partes do “circuito de ansiedade” podem detectar odores ou sons perigosos.

De ratos para seres humanos
Os transtornos de ansiedade são incrivelmente prevalentes e nossos tratamentos atuais são, na melhor das hipóteses, parcialmente eficazes.

“As terapias que temos agora têm desvantagens significativas”, explica Kheirbek. “Este é outro alvo que podemos tentar para mover o campo para a frente e encontrar novas terapias”.

A pesquisa é muito promissora, mas está em estágio inicial e as descobertas de laboratório em animais nem sempre se revelam equivalentes em seres humanos. Os próximos passos da equipe nos darão mais respostas.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Neuron. 


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